Cerca
de 95% dos brasileiros sofrem de cárie e doença das gengivas (doença
periodontal), mesmo com grande número de dentistas por habitante. Um dos
períodos mais importantes para se prevenir as cáries é durante a erupção
(nascimento) dos dentes, sejam eles "de leite" ou permanentes.
A
prevenção baseia-se em:
- Correta
higienização com escova e fio dental;
- Controle
da dieta;
- Uso
correto de flúor, para fortalecer os dentes;
- Acompanhamento
da saúde bucal pelo dentista.
Falamos
a respeito de todos os itens acima em outros posts, exceto do flúor!!
Ele
é muito polêmico na odontologia, pois trata-se, indiscutivelmente, de uma
substância essencial, que deve ser utilizada com sabedoria, pois trata-se de
uma substância muito reativa e tóxica, e para que todos possam
gozar de seus benefícios, é necessária a supervisão do dentista.
Mas
uma coisa é certa: O uso do flúor odontológico é
imprescindível como meio complementar para o êxito no controle da cárie
dental.
Por
se tratar de assunto polêmico, o texto acabou ficando um pouco extenso, mas
ficou bem completo e vale a pena a leitura!
O
que é o flúor?
O
flúor é um mineral natural encontrado em toda a crosta terrestre e largamente
distribuído pela natureza.
Lembro-me
de minha época de escola, quando comecei a estudar a tabela periódica e o
professor nos disse: flúor é o elemento mais eletronegativo na tabela
periódica.
Eletronegatividade
é a tendência que um átomo tem de atrair elétrons. É muito característico dos
não-metais. Linus Pauling, através de experimentos, tentou quantificar esta
tendência e criou uma escala de eletronegatividade. Essa escala existe em
muitas tabelas periódicas.
A eletronegatividade aumenta conforme o raio atômico diminui. Quanto maior o raio atômico, menor será a atração do núcleo pelos elétrons mais afastados e então, menor a eletronegatividade.
Na tabela periódica, os gases nobres não são considerados, já que não tem tendência a ganhar ou perder elétrons. Já estão estabilizados.
A eletronegatividade aumenta nas famílias, de baixo para cima e nos períodos da esquerda para a direita.
O elemento mais eletronegativo é o flúor (F), com valor de eletronegatividade 3,98.
A eletronegatividade aumenta conforme o raio atômico diminui. Quanto maior o raio atômico, menor será a atração do núcleo pelos elétrons mais afastados e então, menor a eletronegatividade.
Na tabela periódica, os gases nobres não são considerados, já que não tem tendência a ganhar ou perder elétrons. Já estão estabilizados.
A eletronegatividade aumenta nas famílias, de baixo para cima e nos períodos da esquerda para a direita.
O elemento mais eletronegativo é o flúor (F), com valor de eletronegatividade 3,98.
Outra
coisa muito batida também nos tempos de escola é: “ os opostos se atraem”.
E
você deve estar se perguntando: porque essa “mulé” tá falando disso agora,
gente?!?!
Eu
respondo: acabei de dizer que “eletronegatividade é a tendência que um átomo
tem de atrair elétrons”, se o flúor é o elemento mais eletronegativo, sendo sua
forma ionizada é “F-“, pode atrair para si qualquer outro átomo na forma
ionizada positiva com facilidade. No caso da odontologia, queremos que esse
flúor interaja com o cálcio ionizado (Ca++), formando o CaF2.
O
problema é que, se ingerido em grande quantidade, pode, por exemplo, se ligar
ao hidrogênio no estômago formando o ácido fluorídrico (HF) e consequente
ferida na mucosa gástrica. No organismo pode se ligar ao cálcio dos ossos,
podendo levar a moléstias ósseas como fluorose esquelética, artrite e
fraturas de stress. Nos dentes em
formação, seja ele um dente de “leite” em formação como um dente
permanente, pode causar a fluorose dentária, logo o dente fica mais “fraco”
pois o flúor “roubou” o cálcio dele.
É
como dissemos, a diferença entre o veneno e o remédio é a dose!
Onde
é encontrado?
O
flúor é um mineral natural encontrado em toda a crosta terrestre e largamente
distribuído pela natureza. Alguns alimentos contêm flúor, assim como a água
fornecida por algumas empresas de serviço público.
Onde
encontrar o flúor:
- Flúor
na água de abastecimento da cidade;
- Flúor
nos alimentos: sal de cozinha, alguns chás, peixes;
- Flúor
nas pastas de dente;
- Enxaguatórios
bucais (bochechos);
- Aplicação
tópica pelo dentista (flúor em gel/ espuma, vernizes, ionômero de vidro);
- Métodos
encontrados em farmácia: comprimidos, soluções, gotas (não usados mais).
Obs.:
Os bochechos e a aplicação tópica devem sempre ser feitos sob supervisão do
dentista. Ao fazer bochechos com flúor procure sempre expelir (cuspir) todo o
produto após o uso. Atualmente não se recomenda o uso de flúor sistêmico, ou
seja, comprimidos de flúor ou flúor associado a complexos vitamínicos, pois
sabe-se que a ação do flúor é de caráter local.
O
flúor é geralmente adicionado à água potável para ajudar a reduzir a incidência
de cáries nos dentes. Na década de 30, pesquisadores encontraram pessoas que
cresceram bebendo água naturalmente fluoretadas. Desde então, os estudos têm
mostrado repetidamente que quando o flúor é adicionado ao suprimento de água da
comunidade, a incidência de cárie diminui. A Associação Brasileira de
Odontologia (ABO), a Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde
(MS), dentre muitas outras organizações têm endossado o uso de flúor nos
suprimentos de água, devido ao seu efeito preventivo contra a cárie, desde que
seja oferecido à população em dosagens e teores adequados, não oferece risco às
pessoas. No Brasil, considera-se ideal para a prevenção à cárie na maior parte
do território nacional um teor de 0,7 mg de flúor por litro, admitindo-se
variações de 0,1 mg para mais ou para menos. Cabe às autoridades sanitárias e aos
concessionários locais monitorar o teor natural de flúor na água e adequar a
oferta da substância dentro de parâmetros seguros
De
acordo com a ABO (Associação Brasileira de Odontologia), a fluoretação do
sistema de abastecimento público de água pode reduzir em até 60% a incidência
de cáries. As estatísticas oficiais confirmam a validade da medida. O
Ministério da Saúde diz que entre 1986 e 1996, houve uma queda de 53% na
prevalência de cárie em crianças de 12 anos de idade provocada pela política de
fluoretação.
Atualmente,
o uso tópico do flúor, quer seja pelo paciente ou pelo próprio dentista,
encontra-se cada vez mais difundido em vista de seus comprovados benefícios,
podendo ser encontrado como componente de diversos produtos odontológicos de
uso caseiro, como colutórios, dentifrícios, fio dental, etc. Esses produtos são
totalmente acessíveis a qualquer indivíduo, logo, o conhecimento do seu uso
correto torna-se necessário, uma vez que utilizado de forma errônea ou
excessiva, o flúor pode causar intoxicação podendo até levar a óbito.
Dos
métodos de aplicação tópica, a utilização de dentifrícios (pasta de dente) com
flúor talvez seja o de maior alcance, principalmente devido à intensa
propaganda difundida pelos meios de comunicação de massa e pelo baixo custo.
A
escovação diária com pastas fluoretadas promove uma diminuição na incidência de
cárie dentária da ordem de 15 a 30%, sendo um método de prevenção reconhecido.
Como
a ingestão desta substância pode trazer prejuízos, pede-se que para as crianças
mais novas ou aquelas com deficiências cognitivas/motores, que não conseguimos
controlar a ingestão da pasta, que façam o uso dos cremes dentais sem adição de
flúor, que são facilmente encontrados em qualquer supermercado e/ou farmácia.
Os
enxaguatórios bucais podem ser de uso semanal (concentração de 0,2%) ou de uso
diário (concentração de 0,05%). Assim como os dentifrícios, são amplamente
usados na prevenção da doença cárie, doenças gengivais e sensibilidade
dentária.
Vale
lembrar que muitas soluções para bochecho prometem que 90% (ou mais) das
bactérias são removidas/ mortas com uso desses enxaguatórios, mas essa
informação não procede. Primeiro deve-se promover uma boa remoção mecânica dos
restos de alimento e placa com o auxílio de escova de dente e fio dental, e
após isso faremos o uso do bochecho (bochechar em torno de 1 minuto). Assim que
fazemos o bochecho, o recomendado é que após cuspí-lo, devemos ficar 30 minutos
sem lavar a boca por dentro, sem beber água (ou qualquer outro líquido) e sem
comer. Dessa forma, deixaremos o flúor por mais tempo em contato com a
superfície dentária.
Hoje,
o mercado apresenta uma larga oferta de produtos, muitos deles com propriedades
terapêuticas específicas, mas sempre visando a higiene e a veiculação do flúor.
Já
no consultório odontológico, muitas são as formas de uso do flúor! Existe o gel
e a espuma usadas após a profilaxia (limpeza), numa concentração acima das
encontradas pelo paciente nos supermercados e farmácias. O verniz usado em
lesões iniciais de mancha branca de cárie e em casos de sensibilidade dentária.
E o ionômero de vidro que é um material que pode ser usado para cimentações,
restaurações, forramentos e preenchimentos.
Por
ser esta uma substância encontrada nas mais diversas concentrações e formas de
apresentação, seu uso deve ser indicado apenas por profissionais capacitados
para poder determinar a quantidade e o período de uso.
Como
ele funciona?
Ao
contrário do que a maioria das pessoas pensa, o flúor não age nos dentes como
um bloqueador que impede o acesso da
cárie aos dentes.
O
papel do flúor não é bloquear os dentes e nem matar a cárie, e sim realizar o
equilíbrio de minerais dos dentes. O flúor não é o antibiótico que vai destruir
as bactérias, não, ele não faz isso, ele só faz controlar. O flúor vai impedir os ácidos que estão dissolvendo os
minerais dos dentes. Ele controla aquela perda de mineral, ele está lá pra
equilibrar. Então o flúor é um moderador que já existe naturalmente nos dentes,
na boca.
O
flúor ajuda a prevenir as cáries de duas maneiras distintas:
- O
flúor se concentra nos ossos em crescimento e nos dentes em
desenvolvimento das crianças, ajudando a endurecer o esmalte dos dentes de
leite e permanentes que ainda não nasceram.
- O
flúor ajuda a endurecer o esmalte dos dentes permanentes que já se
formaram.
O
flúor trabalha durante os processos de desmineralização e remineralização que
ocorrem naturalmente em sua boca.
- As
bactérias causadoras da doença cárie e sua saliva contém ácidos que causam
a desmineralização nos dentes (perda de cálcio e fóforo). Estes ácidos são
liberados após a alimentação.
- Em
outros momentos - quando sua saliva está menos ácida, ou quando removemos
os restos de alimentos, e consequentemente, diminuímos a quantidade de
bactéria na superfície dental - ocorre justamente o oposto, a reposição do
cálcio e do fósforo que mantém seus dentes resistentes. Este processo é
chamado de remineralização. Quando o flúor está presente durante a
remineralização, os minerais depositados são mais duros do que seriam sem
o flúor (por causa do tipo de ligação que este elemento,o flúor, tem com o
cálcio e fósforo), ajudando a fortalecer seus dentes e a prevenir a
dissolução durante a próxima fase de desmineralização.
Consequências
do uso em excesso do flúor:
Paracelsus declarou
que "todas as substâncias são venenos; nenhuma que não seja veneno. A dose
certa é que diferencia um veneno de um remédio". O fluoreto não é exceção
a esta observação histórica. Quando ingerido em quantidades de 1 a
3 mg/dia, como seria o caso em comunidades com fluoração ótima, é
perfeitamente seguro. Entretanto, uma dose de 5 a 10 g defluoreto
de sódio (aproximadamente 2,5 a 5 g de fluoreto) é uma dose fatal para o
adulto, e quantidade menores são letais para as crianças. Foram relatados
incidentes de envenenamento agudo pelo fluoreto em decorrência de acidentes
industriais, inalação de substâncias usadas em fumigações, ingeridas de
inseticidas domiciliares contendo fluoreto ou tentativa deliberada de suicídio.
Tipicamente,
os pacientes com grave envenenamento por fluoreto apresentam:
- náusea,
- vômito,
e
- diarréia,
- hipotensão
progressiva,
- hipocalcemia e
- hiipomagnesemia pronunciadas,
- acidose,
- irregularidades
cardíacas, como a taquicardia ventricular e, algumas vezes,
- fibrilação e
- assistolia.
Com
a difusão de seu uso em odontologia, outro problema surgiu – a fluorose, o
excesso de flúor no organismo. Afinal, a substância não se encontra apenas na
água e nos cremes dentais: ela também está presente em diversos alimentos, como
chás, leite em pó, cereais além de estar presente também nos enxaguatórios
bucais.
Passou
a haver uma ingestão exagerada de flúor. As grandes vítimas desse consumo
desmedido são as crianças. Em algumas cidades do Brasil, como Porto Alegre,
mais da metade da população entre 8 e 14 anos sofre do mal. Em seu grau mais
leve, a fluorose se manifesta por intermédio de pequenas manchas brancas sobre
o dente. Nos casos mais avançados, ela enfraquece o dente de tal forma que,
além de ficar mais suscetível à cárie, ele pode se quebrar com facilidade.
A
fluorose é um mal que avança silenciosamente. O excesso do mineral começa a
estragar os dentes antes de eles nascerem, roubando o cálcio dos dentes, dessa
forma deixando-os mais fracos. Se manifesta com um aspecto quebradiço e
cromaticamente disforme dos dentes.
A
incidência do problema é maior entre as crianças porque, não bastasse o consumo
natural de flúor, elas tendem a consumir doses extras ao engolir, sem querer,
pasta de dente. Vários estudos já mostraram que, até os 7 anos de idade, elas
chegam a ingerir 80% da pasta de dente usada numa escovação. Por isso, vários
odontopediatras recomendam que crianças de até 7 anos usem apenas cremes
dentais com baixas concentrações de flúor. E que a quantidade de pasta, nesses
casos, seja equivalente a um grão de arroz. A melhor arma na prevenção
da fluorose é ensinar às crianças como fazer uma higiene bucal adequada e
manter em dia as visitas ao dentista. Simples assim. A fluorose não se combate
com o abandono do uso do flúor. Mesmo porque, para muitos brasileiros,
especialmente os das camadas mais pobres, a água fluorada é ainda a única arma
contra a cárie. Além disso, quando o
dente já está formado, tanto em crianças quanto em adultos, o mineral não
representa nenhuma ameaça. Ao contrário: é um grande aliado.
A
lista dos efeitos pode ser resumida assim, para o consumo de compostos do
flúor.
- 1,5mg/dia
a 2,5mg/dia — Redução da cárie em até 70% com 20%–40% de fluorose muito
leve e leve, em crianças de até 7 anos, sem nenhum efeito tóxico
considerável. Sequer os pais conseguirão ver qualquer alteração no esmalte
dentário. Essa quantidade corresponde ao consumo de água a níveis ótimos
de flúor.
- 6,0mg/dia
— Anulação de boa parte do efeito benéfico, com presença de problemas
ósseos e neurológicos em algumas crianças mal-nutridas e
fluorose leve, moderada e severa com sério comprometimento da estética.
Muita gente resiste bem a essa porção.
- 10,0mg/dia
a 20mg/dia — Quantidade tóxica. Algumas pessoas poderão ter problemas
gástricos leves devido a formação do HF no estômago. Essa
porção pode levar a moléstias ósseas como fluorose esquelética, artrite
e fraturas de stress, associadas a distúrbios de aprendizagem em infantes.
Corresponde a problemas reportados pelo UNICEF em comunidades indianas e
chinesas. Está ligada a problemas relatados por pessoas vivendo próximo a
fábricas de cerâmica e fertilizantes e consumidores de águas insalubres no Nordeste
brasileiro.
- 200mg
— Já foi relatado, nessa dosagem, morte por intoxicação de crianças mais
sensíveis. Causa grande mal-estar gástrico devido a formação do ácido
fluorídrico (HF) no estômago e consequente ferida na mucosa gástrica.
- 500mg–2g
— Com 500mg, em um consumo único, causa parada cardíaca e morte
em crianças e com doses a partir de 2g, de fluoreto de sódio, pode matar um adulto. Lavagem gástrica
e consumo de água de cal (Ca(OH)2), hidróxido de magnésio, ou leite, podem
diminuir a absorção da substância por parte do organismo. É fundamental
que o paciente seja levado a um hospital para tratamento.
Termino
este post com uma frase usada lá no início de nosso texto: o flúor é muito polêmico
na odontologia, pois trata-se, indiscutivelmente, de uma substância essencial,
que deve ser utilizada com sabedoria, pois trata-se de uma substância muito
reativa e tóxica, e para que todos possam gozar de seus benefícios,
é necessária a supervisão do dentista para indicar a quantidade, a
concentração, a forma de apresentação e o período de uso.
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1 comentários:
Adorei o Blog... Excelente artigo! Parabéns
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